Profissionais de saúde do Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), em Santarém, oeste do Pará participaram, no fim de semana, de uma capacitação para o diagnóstico de morte encefálica.
"Já sabemos fazer o procedimento, mas é um momento importante para a gente alinhar a equipe, sensibilizar os profissionais para fazerem essa identificação e produzir essas provas da condição clínica. Sabemos que é um momento de dor para as famílias e precisamos fazer esse diagnóstico da forma mais humanizada possível", destacou o médico Daniel Calçado, pediatra que atua na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do HRBA.
O 1º Curso de Diagnóstico de Morte Encefálica foi promovido pela Central Estadual de Transplantes (CET), da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), em parceria com o Regional de Santarém. O público-alvo foi formado por médicos que trabalham no HRBA e em outras unidades de saúde da região, como o Hospital Municipal local.
Segundo a resolução nº 2.173/17 do Conselho Federal de Medicina, o diagnóstico de morte encefálica tem que ser realizado por dois profissionais médicos das seguintes áreas: intensivistas (adulta ou pediátrica), neurologistas (adulta ou pediátrica), neurocirurgiões ou que atuem em emergência. Eles precisam ter, no mínimo, um ano de experiência de atendimento a pacientes em coma e realizar um curso de capacitação.
"A gente seguiu os critérios do CFM e montamos esse curso para capacitar nossos profissionais a realizarem esse diagnóstico. Era uma capacitação que só existia fora do município e, com o apoio da Central de Transplantes, conseguimos trazer para os médicos que trabalham com pacientes graves no dia a dia, tanto aqui no Regional quanto no municipal de Santarém", explicou o médico Antônio Carlos Silva, coordenador da Organização de Procura de Órgãos (OPO) Tapajós.
Durante o curso, os participantes foram orientados a respeito do rigoroso protocolo que determina a morte encefálica, além de conhecer como funciona o trabalho da OPO Tapajós no Hospital Regional, do setor de transplantes renais da unidade e da Central Estadual de Transplantes.
"A região Norte do Brasil é a que menos notifica morte encefálica no país. Por isso, é muito importante para o estado diagnosticar todos os doentes críticos que estejam com suspeita de morte dentro das UTIs. Isso vai fazer com que os nossos números de notificação aumentem e que mais famílias sejam oportunizadas a decidirem ou não pela doação de órgãos, aumentando também o número de transplantes e diminuir o número de pessoas que aguardam na fila por um órgão", ressaltou a coordenadora da Central de Transplantes e uma das palestrantes do curso, Ierecê Miranda.
O HRBA é referência em captação de órgãos e transplantes renais no interior da Amazônia. Desde novembro de 2012, a unidade conta com a Organização de Procura de Órgãos (OPO) Tapajós.
Hoje, a OPO conta com um médico, dois enfermeiros e uma assistente administrativa, que trabalham na busca ativa de potenciais doadores, no apoio ao diagnóstico de morte encefálica e no acolhimento e consentimento da família para a doação. Já foram captados no HRBA 177 órgãos, sendo 92 rins, 71 córneas, 10 fígados e quatro corações.
Já os transplantes são realizados desde 2016. Atualmente, a equipe do setor de transplantes conta com cinco médicos nefrologistas, um enfermeiro e dois técnicos de enfermagem. Foram 102 transplantes realizados pelo HRBA até o momento, sendo 53 intervivos – quando geralmente o doador é um parente do transplantado – e mais 49 de doadores falecidos.
"A constante capacitação e formação dos nossos profissionais é muito importante para nós, um dos pilares do nosso hospital. Então, esse curso, com a parceria da central, é fundamental para desenvolver ainda mais o nosso trabalho e reforçar o HRBA como uma referência na captação e transplantes em toda a região", afirmou o diretor-geral do Regional, Gean Francisco Cercal.