Chegou ao fim os dias de angústia dos familiares dos seis tripulantes da embarcação “Bom Jesus” que desapareceu há 17 dias no Arquipélago do Marajó, no Pará. O traslado da tripulação foi feito por uma aeronave do Grupamento Aéreo de Segurança Pública (Graesp) que desembarcou no começo da noite desta quinta-feira (14) no Aeroporto de Santarém, no oeste do estado. Foi do município que os seis saíram no dia 24 de março com destino ao município de Soure, região do Marajó, para traçar uma rota de viagem fluvial. O grupo deixou de dar notícias três dias depois de sair de Santarém, dia 27 de março, causando preocupação, angustia e sofrimentos para as famílias.
“Foram 17 dias de desespero, mas já acabou essa agonia, eu sempre falava que ele ainda não tinha cumprido a missão dele aqui na terra, que é criar a filha dele, que ele tem uma filhinha de 10 anos. Sou só eu, nossa filha e minha mãe idosa em casa.” – falou emocionada Kátia Cilene Pereira – esposa de um dos tripulantes.
Kátia relatou ainda em entrevista à imprensa no saguão do Aeroporto de Santarém o drama vivido pelos familiares da tripulação por conta das várias notícias falsas sobre seus parentes. “Eu vivi e morre todas as vezes que mandavam [via WhatsApp] pedaços de corpo que não tinha cabeça, que tinham matado fuzilado, que estavam amarrados. Isso acabava com a família, isso destruía a gente de vez.” – relatou.
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Familiares e uma equipe da Polícia Civil acompanharam o desembarque dos tripulantes que vieram em aeronave do Graesp que saiu de Belém, onde receberam atendimento médico após o resgate. Todos os seis devem ser ouvidos pela polícia afim de esclarecer as circunstâncias do acidente com a embarcação, saber a motivação da viagem, se havia carga ou se realmente era apenas uma viagem para traçar rota fluvial.
“Como foi instaurado um inquérito policial na presença do delegado Eduardo Simões, nós estamos colaborando nas investigações, dando apoio nas investigações dos fatos, e verificar quais são as causas e circunstâncias que ocorreu esse episódio e na conclusão do inquérito policial. Nós vamos intima-los a comparecer na delegacia para prestar esclarecimentos.” – informou o titular do Núcleo de Apoio à Investigação (NAI), delegado Silvio Birro.
Na chegada o comandante da embarcação, Cristiano de Azevedo Figueira, falou com a imprensa e contou como tudo aconteceu. “Durante um temporal a gente foi ver se conseguia conter água e não conseguimos, aí quando a gente se espantou já estava começando o fogo lá pra cozinha. Graças a Deus, Deus colocou a gente numa posição legal para chegar na margem [nadando]. Antes que ela pegasse fogo de uma vez a gente conseguiu tirar alguns mantimentos. A gente foi fazer uma pesquisa para uma possível linha.” – disse o comandante.
Emocionada, Leilane Carla Ferreira, que trabalhava como cozinheira da embarcação conta como conseguiu sobreviver ao acidente. Ela diz nunca ter pedido a fé em Deus e a esperança de sair com vida dessa situação.
“Em nunca pedir a esperança em Deus, eu tenho muita fé. Eu sabia que se Ele tirou a gente do fundo do mar, que eu não sabia nadar, jogou a gente numa ilha, eu sabia que Ele ia tirar a gente dali, só não sabia o dia. A gente se virou com o que a gente conseguiu salvar do barco, que foi uns quilos de arroz, uma calabresa, que a gente comia de dois em dois dias.”
A tripulação
A bordo da embarcação "Bom Jesus" estavam Antônio Oliveira e Negão, que eram os maquinistas; Leilane Carla Ferreira, cozinheira; Cristiano de Azevedo Figueira, marinheiro; Joelson da Silva Costa - responsável pela carga e o Policial Militar da reserva Valdeney Dolzanes Reis que fazia a escolta da carga.
O resgate
A Marinha do Brasil resgatou na tarde desta quarta-feira (13), os seis tripulantes da embarcação "Bom Jesus" que estavam desaparecidos há 17 dias na Região da Ilha do Marajó no Pará. O resgate foi feito com o apoio de uma aeronave, as seis pessoas estavam em uma área conhecida com Ilha das Flechas, próxima a divisa dos estados do Pará e Amapá.
A informação foi confirmada pela Capitania dos Portos do Amapá (CPAP). Uma equipe da Polícia Civil de Santarém seguiu para o estado do Amapá para acompanhar o caso. Após o resgate, os seis tripulantes foram levados para Belém, onde estão recebendo atendimento médico.
Os tripulantes relataram que ficaram ilhados após uma pane na embarcação que resultou em um incêndio. Todos estão vivos, uma mensagem colocada em uma garrafa e jogada no rio ajudou na localização do grupo. O bilhete datado do dia 4 de abril dizia: "Socorro, socorro! Precisamos de ajuda, nosso barco pegou fogo, estamos há 13 dias na Ilha das flechas, sem comida. Avisem nossas famílias. Somos seis tripulantes."
A garrafa com o bilhete foi encontrada por um pescador que informou a Marinha do Brasil. Pelas redes sociais a Marinha também confirmou que todos os seis tripulantes foram resgatados com vida. (Veja o momento do resgate)
O caso
A embarcação saiu de Santarém, oeste do Pará, no dia 24 de março com destino ao município de Chaves, localizado na ilha do Marajó. A viagem teria duração de apenas 10 dias. O último contato da tripulação com os familiares foi no dia 27 de março, desde de então o grupo não deu mais nenhum sinal de vida.
O desaparecimento foi registrado por familiares dos tripulantes na manhã desta terça-feira (12), na 16ª Seccional da Polícia Civil de Santarém. Na tarde do mesmo dia, um navio da Marinha foi enviado pela Capitania dos Portos do Amapá (CPAP) para tentar localizar a embarcação. As buscas iniciaram a partir do município de Santana do Amapá em direção à Chaves, no Pará, município de destino da embarcação. Segundo a CPAP uma operação de resgate e salvamento foi montada para realizar o resgate dos tripulantes.
Segundo relatos da família, após o grupo chegar no destino os tripulantes teriam sido informados que a pessoas que receberia a carga teria desistido de fazer a retirada no porto do município e para não perderem a viagem eles resolveram levar a encomenda até uma localidade chamada Nazaré, que fica na região. Os familiares não souberam informar qual tipo de carga o grupo transportava.