Descobertas arqueológicas revelam novos tesouros da pré-história amazônica em Monte Alegre, no PA

Pesquisas lideradas por especialistas revelam 14 novos sítios arqueológicos na região do Parque Estadual Monte Alegre (PEMA), destacando a importância da preservação do patrimônio histórico.

Por Redação/Portal do Tapajós em 22/03/2024 às 15:51:19

Pinturas rupestres do Cauçu indicam presença de povos diferentes em MTA - (Foto: Edithe Pereira)

O Parque Estadual Monte Alegre (PEMA), na região oeste do Pará, se destaca como um rico patrimônio da pré-história amazônica, abrigando sítios arqueológicos com pinturas rupestres que remontam a cerca de 12 mil anos atrás. Em 2022, sua importância foi reconhecida mundialmente pela World Monuments Fund (WMF), que o elegeu como um monumento de valor inestimável. Recentemente, novos estudos revelaram uma riqueza ainda maior na região, com a descoberta de 14 novos sítios arqueológicos ao redor do PEMA, em propriedades privadas na região do Cauçu.

Essas descobertas foram possíveis graças aos esforços coordenados da pesquisadora Edithe da Silva Pereira, do Museu Paraense Emílio Goeldi, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e financiamento da artista plástica e empresária mineira Marcela Pereira Soares. Esta iniciativa de financiamento privado para pesquisa científica marca um marco importante na preservação e estudo do patrimônio arqueológico na Amazônia.

A região do Cauçu, antes pouco explorada, revelou-se um verdadeiro tesouro para a arqueologia amazônica. Com a aquisição de lotes pela mecenas Marcela Soares, a proteção do patrimônio ameaçado foi garantida, permitindo também o desenvolvimento de pesquisas que resultaram na identificação de oito novos sítios arqueológicos em setembro de 2023, além de outros seis na etapa seguinte, todos catalogados no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA).

Segundo Edithe Pereira, as descobertas enfatizam a diversidade cultural e a presença de diferentes grupos humanos ao longo da história na região de Monte Alegre. A preservação desses sítios torna-se crucial diante dos riscos impostos pelo avanço do agronegócio, com queimadas e desmatamento ameaçando não apenas as pinturas rupestres, mas também outros vestígios importantes da antiguidade amazônica, como cerâmicas e terra preta.

"É uma grande formação rochosa cujas frestas formam um intricado labirinto no qual se encontram diversos abrigos. É nas paredes e nos tetos destes abrigos que estão as pinturas. Durante a pesquisa que realizamos em janeiro deste ano documentamos os sítios que já conhecíamos e ainda encontramos mais. No total, temos 14 sítios, mas deve ter muito mais. É preciso procurar e investir no trabalho de prospecção, ou seja, na procura de sítios dentro da área do Cauçu", afirma Edithe Pereira.

A arqueóloga, que trabalha com a hipótese de que estes registros são marcas dos diferentes povos que habitaram Monte Alegre, descreve ainda que "Provavelmente, foram culturas diferentes que andaram no Parque e no Cauçu. As pinturas também tem uma característica interessante que é a localização delas em pequenos abrigos. Como é uma região difícil de morar por causa da presença de muitas rochas, supomos que eles iam ali exclusivamente para pintar. Eles deveriam morar por perto e há indícios disso porque há terra preta com cerâmica no entorno dessa imensa formação rochosa".

Foto: Edithe Pereira

Para a pesquisadora do Museu Goeldi, os resultados das pesquisas em Monte Alegre demonstram a importância arqueológica do local e a necessidade de aumentar os investimentos públicos. Edithe também pontua que pessoas físicas interessadas em arqueologia, e com disponibilidade de recursos, têm na ação de Marcela Soares uma fonte de inspiração e, quem sabe, o estímulo para a realização de doações privadas para a ciência.

"A expansão do agronegócio pela Amazônia ocidental preocupa, pois, a instalação desses empreendimentos se dá com a abertura de áreas por meio de queimadas ou desmatamento, prejudicando a conservação da sociobiodiversidade local, bem como intensificando os processos de mudanças climáticas. Além disso, as pesquisas arqueológicas se vêm diante do constante risco de perda de informações cruciais para o conhecimento sobre a história, a cultura e os modos de vida das antigas sociedades amazônicas", comenta Edithe Pereira.

Fonte: (*) com informações de Museu Goeldi

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