Programa Fitoterápicos impulsiona produção sustentável na região amazônica e protege o meio ambiente

Iniciativa promovida pelo PNUD e Ministério do Meio Ambiente capacita associações amazônicas a produzir plantas medicinais de forma sustentável.

Por Pablo Vastei em 30/08/2023 às 09:48:24

Fotos: Divulgação/PNUD

Em um esforço para encontrar alternativas econômicas que também preservassem o ecossistema, organizações na região amazônica uniram conhecimentos ancestrais sobre plantas medicinais e a utilização sustentável de recursos naturais. O Projeto Fitoterápicos, promovido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em colaboração com o Ministério do Meio Ambiente, emerge como um catalisador desse esforço, capacitando associações e cooperativas locais a expandir a oferta de produtos feitos com plantas medicinais nativas e seus derivados.

"A gente acredita no potencial medicinal das plantas. Se ficou doente, gripado, faz banho. O óleo de andiroba serve para massagens, dores musculares, repelentes", conta Amanda Paz, presidente da Cooperativa Renascer, que faz parte da Federação das Organizações e Comunidades Tradicionais da Floresta Nacional do Tapajós.

Esse conhecimento tradicional vem dos antepassados e é transmitido de geração para geração. "E assim vai seguindo...” Cuidando da floresta e da saúde. "Quase todas as famílias da comunidade trabalham com plantas medicinais." E acredita que continuará, mais ainda, com o apoio do Projeto Fitoterápicos.

Em 2012, a Associação Bom Sucesso foi criada em Porto Grande, no Amapá, e mais tarde se transformou na Associação das Mulheres Extrativistas Sementes do Araguari, uma organização majoritariamente composta por mulheres. Com o apoio financeiro e técnico, essa associação e outras três instituições foram selecionadas pela SOS Amazônia para participar do Projeto Fitoterápicos. Cada organização receberá uma subvenção de US$ 50 mil, o que impulsionará ainda mais a capacidade de produção e o desenvolvimento de novos produtos.

"Esses recursos vão quase concluir a estrutura do laboratório, para aumentarmos a produção", informa Arlete Pantoja Leal, presidente da Associação das Mulheres Extrativistas Sementes do Araguari. O objetivo é ampliar a oferta de produtos, incluindo o creme de andiroba, inovando e expandindo as vendas. "A gente tira da floresta, sem destruí-la."

As mulheres desempenham um papel crucial nesse cenário, dominando a produção de produtos de alta qualidade, como o óleo de andiroba. Suas atividades não apenas proporcionam renda, mas também se alinham a um modelo econômico de "economia da floresta em pé", que contribui para a preservação da biodiversidade e o combate ao desmatamento e às mudanças climáticas.

"O programa não apenas impulsiona a economia local, mas também valoriza o engajamento feminino e dos jovens em atividades produtivas sustentáveis", destaca o ecólogo Adeilson Lopes, coordenador do Programa Negócios Florestais Sustentáveis da SOS Amazônia. São 265 pessoas diretamente envolvidas nas cadeias de plantas medicinais, sendo 116 mulheres.

A iniciativa também auxilia na proteção do meio ambiente, oferecendo alternativas à exploração predatória e destrutiva do ecossistema. Com os produtos fitoterápicos, as organizações locais demonstram que é possível prosperar economicamente enquanto se conserva a riqueza natural da região amazônica.

A Cooperativa Mista dos Agricultores Familiares e Extrativistas dos Caetés (Coomac), em Bragança (PA), está se preparando para reativar sua usina de óleo de andiroba com a compra de equipamentos que vão melhorar a qualidade do produto. "Hoje, fazemos o óleo de andiroba em casa ou vendemos a semente", diz João Nelson Pereira Magalhães, gerente social da cooperativa. O foco é ampliar para o óleo de buriti e de mururu, a manteiga de tucumã e de bacuri e dar renda para os integrantes da Coomac, que tem entre eles 55 mulheres, 11 idosos e 15 jovens.

Também será beneficiada a Cooperativa Alternativa Mista dos Pequenos Produtores do Alto Xingu (Camppax), em São Felix do Xingu (PA), que comercializa folhas secas de jaborandi. "Vamos adquirir triciclos com carroça para transportar as folhas e facilitar a colheita. Hoje, é um trabalho muito difícil, uma luta", diz Raimundo Freires dos Santos, presidente da Camppax. Os folheiros de jaborandi, como são conhecidos, ficam de 20 a 30 dias na floresta em barracas improvisadas, carregam o que colhem nas costas por 4 a 5 km. "Vivemos disto."

O Projeto Fitoterápicos representa um passo significativo na direção de uma coexistência harmoniosa entre a atividade humana e a natureza. Por meio da valorização das plantas medicinais e da produção sustentável, ele não apenas impulsiona a economia local, mas também protege a biodiversidade e contribui para a luta contra as mudanças climáticas. O esforço coletivo dessas comunidades inspira ações similares em todo o mundo, destacando o potencial da sabedoria ancestral aliada à inovação sustentável.

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