Estudo revela desigualdades de gênero na academia brasileira

O estudo revela desigualdades de gênero na academia brasileira, com crescimento do número de mulheres com doutorado não sendo acompanhado por um aumento proporcional na presença feminina na docência.

Por Pablo Vastei em 11/05/2023 às 08:28:23

Foto: Reprodução/Agência Brasil

Um levantamento realizado pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), com apoio do Instituto Serrapilheira, aponta que o crescimento do número de mulheres com doutorado não está sendo acompanhado pelo mesmo aumento de mulheres na docência.

O estudo identifica essa disparidade como o "efeito tesoura", termo que descreve um mecanismo que limita a presença das mulheres na ciência. Apesar do estoque de doutoras disponíveis, elas são sub-representadas em determinadas funções, como a docência.

Um exemplo disso ocorre na área de ciências agrárias, onde a paridade de gênero foi alcançada no último estágio da pós-graduação, com 51% de doutoras. No entanto, apenas 25% dos docentes permanentes nas universidades do país são mulheres. Esse fenômeno se repete em zootecnia e recursos pesqueiros, em que 52% dos doutores titulados são mulheres, mas apenas 36% do corpo docente é composto por professoras. Para os pesquisadores, isso indica que as mulheres formadas nessas áreas não estão alcançando os cargos mais altos da carreira acadêmica.

Por outro lado, a área de ciência da computação apresenta uma das menores proporções de mulheres tanto no corpo docente (cerca de 20%) quanto entre os doutores (apenas 18%). Segundo os pesquisadores, aqui não se aplica o "efeito tesoura", uma vez que a proporção de professoras é próxima à de doutoras. No entanto, o problema reside na baixa presença geral de mulheres, o que indica a necessidade de políticas para diversificar essa área, investindo tanto na contratação de professoras quanto na formação de mais doutoras.

Luiz Augusto Campos, coordenador do Gemaa e pesquisador apoiado pelo Instituto Serrapilheira, destaca a importância de compreender o "efeito tesoura" na ciência para identificar em quais etapas da carreira acadêmica as desigualdades de gênero surgem, seja na formação de doutoras ou no recrutamento de professoras, ou em ambos os casos.

Cristina Caldas, diretora de Ciência do Instituto Serrapilheira, ressalta que é fundamental realizar estudos sistemáticos para avaliar o impacto das políticas ao longo do tempo e obter dados robustos que revelem as discrepâncias entre as diversas áreas do conhecimento.

Em relação às ciências biológicas, a área apresenta paridade de gênero entre os docentes, com quase 50% de mulheres professoras em programas de pós-graduação. No entanto, esse percentual é inferior à presença de doutoras formadas, que chega a quase 70%. Essa situação configura um cenário de maior equilíbrio entre os gêneros, mas com algum efeito tesoura.

Em algumas áreas, foi alcançada a paridade de gênero tanto na docência quanto no nível de doutorado, sem a presença do efeito tesoura.

Fonte: Com informações da Agência Brasil

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