No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2023, a região Nordeste se destacou como a líder em número de redações com nota máxima, alcançando um marco significativo. Dos 60 estudantes em todo o país que obtiveram a pontuação perfeita, 25 são oriundos da região Nordeste. Ao somar-se à região Norte, que contribuiu com cinco estudantes, ambas totalizam metade dos estudantes com nota máxima na prova realizada no final do ano passado.
O estado do Piauí se destaca, com seis estudantes conquistando a cobiçada nota máxima, posicionando-o ao lado do Rio Grande do Norte e do Rio Grande do Sul, cada um com seis estudantes destacados. Somente o Rio de Janeiro e São Paulo superaram esses estados, com sete estudantes obtendo nota máxima cada. Fernando Gomes, diretor da escola Equação Certa em Teresina, expressou sua alegria, enfatizando que esse sucesso é resultado de esforços contínuos com os alunos.
"Para nós, é algo fantástico que traz uma alegria imensa. No entanto, não é totalmente novo; é algo que temos produzido consistentemente", afirma Gomes. Embora a escola já tenha produzido três alunos com nota máxima anteriormente, este ano viu três alunos alcançando essa façanha simultaneamente. Fernando Gomes destaca a conquista do estado, observando que, apesar de ter menos estudantes do que o Rio de Janeiro ou São Paulo, o Piauí teve quase a mesma quantidade de alunos com nota máxima.
"Se fosse para comparar proporcionalmente, eles precisariam ter 60 notas máximas", calcula o diretor. "Então, proporcionalmente, é um resultado impressionante", comemora.
Uma das estudantes que obteve nota máxima é Millena Martins, de 19 anos, que expressou felicidade e realização. Martins, que pretende cursar medicina, atribuiu seu sucesso à prática semanal, fazendo em média duas redações por semana e corrigindo-as prontamente para aprimorar suas habilidades de escrita.
Aumento nas Notas Máximas
O número de estudantes que alcançaram a nota máxima mais que triplicou entre o Enem 2022 e a última edição em 2023. Em 2022, 18 candidatos alcançaram a pontuação mais alta, enquanto em 2023, o número aumentou para 60. Segundo Marcia Mendonça, pesquisadora em linguística aplicada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), esse aumento reflete um investimento maior das escolas na preparação dos alunos, possivelmente indicando uma maior confiança no exame.
"O aumento nas notas reflete um investimento maior das escolas na preparação dos alunos, o que pode ser entendido como um indicador de maior confiança no exame e de um retorno à normalidade no crescimento e importância desse exame", sugere Mendonça.
A escolha do tema da redação, "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil", também pode ter contribuído para o desempenho dos estudantes, de acordo com Mendonça. Ela acredita que a relevância social significativa do tema facilitou o envolvimento dos estudantes com o assunto.
Escolas Públicas e Fatores Sociais
Os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) na última terça-feira (16) revelaram que, do total de 60 estudantes com nota máxima, apenas quatro vieram de escolas públicas, apesar de 40% de todos os participantes do exame serem da rede pública de ensino. Paulo Carrano, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), sugere que diversos fatores, desde infraestrutura até condições socioeconômicas, contribuem para essa discrepância.
Carrano enfatiza a necessidade de abordar a dívida social acumulada com a juventude do país. Aproximadamente metade dos estudantes que concluíram o ensino médio em 2023 não participaram da última edição do Enem. Em resposta, o ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou incentivos financeiros para alunos do terceiro ano do ensino médio, visando estimular sua participação no exame.
Na terça-feira (16), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei que cria um tipo de poupança para apoiar estudantes de baixa renda na conclusão do ensino médio. Paulo Carrano acredita que esse suporte, fornecendo recursos mensais para os estudantes, será crucial nos próximos anos para lidar com questões de evasão e desengajamento do sistema educacional.
"vai incidir exatamente nesse fator de evasão, de desengajamento, que é essa força centrífuga que afasta o jovem do ambiente escolar, que é o mundo do trabalho, que é a precarização da vida".
Fonte: * com informações da Agência Brasil