O Ministério PĂșblico Federal (MPF) iniciou uma investigação para apurar a demora do Estado na remoção e perĂcia do corpo de um indĂgena encontrado com sinais de violĂȘncia no ParĂĄ, Brasil. O corpo do Cacique Adamor Farias Neves foi descoberto pela comunidade em avançado estado de decomposição na aldeia Mapirizinho, Território IndĂgena Kumaruara, localizado em Santarém, oeste do ParĂĄ, na Ășltima segunda-feira (8). Ao ser acionada, a PolĂcia CientĂfica relatou a falta de transporte fluvial necessĂĄrio para o acesso da equipe do Instituto Médico Legal (IML) ao local. O serviço foi realizado apenas no dia seguinte.
A pedido do MPF, a SuperintendĂȘncia Regional do Baixo Amazonas da PolĂcia Civil e a PolĂcia CientĂfica do ParĂĄ deverão esclarecer, no prazo de dez dias, a demora excessiva para o atendimento da demanda envolvendo a morte do indĂgena e informar a logĂstica utilizada pelas instituições para a realização do serviço, além de encaminhar ao MPF o laudo pericial.
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No inquérito civil instaurado para apurar o caso, o MPF requer ainda que os órgãos comprovem a ausĂȘncia de transporte fluvial para o desempenho das atividades institucionais, com especificação sobre o atual estado de embarcações e eventuais danificações, com prazo para resolução. Além disso, requisita informações sobre quais medidas serão tomadas imediatamente para suprir a falta de transporte, seja por meios próprios ou em cooperação com outros órgãos pĂșblicos.
Sobre o caso
No dia em que o corpo foi encontrado, o MPF encaminhou ofĂcio à PolĂcia CientĂfica do ParĂĄ requisitando perĂcia necroscópica, além de explicações urgentes sobre a recusa de prestação de ofĂcio do serviço, considerando suas atribuições e a possibilidade do uso de embarcações ou aeronaves em colaboração com outros órgãos pĂșblicos para o acesso ao local. Segundo o órgão, ainda não foram apresentados esclarecimentos oficiais.
Lideranças indĂgenas informaram que a PolĂcia Civil e a PolĂcia CientĂfica estiveram no dia seguinte, terça-feira (9), na aldeia Mapirizinho para perĂcia e remoção do corpo do indĂgena. Para o MPF, a demora violou direitos fundamentais do indĂgena, de familiares e do povo Kumaruara. "Em razão da falha do serviço pĂșblico, os familiares e a comunidade precisaram conviver e conservar, por sua própria conta e risco, o corpo encontrado em situação de violĂȘncia, de modo que o tratamento dispensado pelo Estado supera a ilegalidade e transborda para a absoluta desumanidade", destaca o órgão.
Transporte fluvial
Em relação à falta de transporte fluvial, o MPF ressalta que cerca de 50 mil pessoas vivem em ĂĄreas ribeirinhas no municĂpio e que, por terem os rios como principal meio de transporte, dependem da prestação de serviços do poder pĂșblico por via fluvial. O órgão acrescenta que o deslocamento, nesse caso, poderia ser feito de lancha, com duração de 40 minutos – sendo o acesso menos complicado em comparação a outros destinos na região – e considera a falta de estrutura "preocupante e inadmissĂvel".
Outra ponderação do órgão é que a demora para o inĂcio do trabalho pericial prejudica a investigação de crimes violentos, seja pela alteração do local do crime ou pelo estĂĄgio avançado de decomposição do corpo. Nesse sentido, o órgão enfatiza relatos de demora para remoção de corpos de indĂgenas pela PolĂcia CientĂfica, inclusive na ĂĄrea urbana do municĂpio. Para o órgão, hĂĄ ainda indĂcios da prĂĄtica de racismo institucional no caso.
* com informações do MPF