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Pará

Ufopa fará parte de rede global de monitoramento de chuvas no Pará

A iniciativa é inédita e visa entender as chuvas da região a partir da identificação da origem da água por meio da sua assinatura isotópica.


Foto: Divulgação/Ufopa

Com o apoio do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) instalou em dezembro, na Fazenda Experimental, um pluviômetro de isótopos, equipamento utilizado para coletar água da chuva para determinar sua composição isotópica e físico-química. O coletor integra a Rede Global de Isótopos de Precipitação (GNIP), rede mundial de monitoramento de isótopos de hidrogênio e oxigênio oriundos das águas das chuvas, operada pela Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU) destinada ao estudo, pesquisa e tratamento de isótopos atômicos.

Segundo o geólogo do CPRM Guilherme Nogueira dos Santos, que participou da instalação do pluviômetro, as amostras coletadas pelo equipamento serão enviadas para Viena, na Áustria, para serem analisadas pela IAEA, que cedeu o equipamento, gerando dados com relação à assinatura isotópica da chuva da região de Santarém. “Com esse aparelho instalado aqui esperamos conseguir entender melhor quais são os processos de formação das chuvas da região. Isso é muito importante para diversas atividades ambientais e econômicas”.

Na Ufopa, a iniciativa reúne professores e alunos dos cursos de Ciências Atmosféricas, Geologia e Geofísica, que farão a coleta mensal das amostras. A primeira coleta será realizada em janeiro de 2022. “O nosso pessoal está engajado para que a gente consiga fazer melhores análises e monitoramento dessa questão da precipitação através dos isótopos, das informações isotópicas da água”, afirma o coordenador do curso de Ciências Atmosféricas, Theomar Neves. “Com essa iniciativa pretendemos entrar em um âmbito internacional, já que esses dados irão compor medidas globais que são feitas em Viena”.

“Este estudo é importante para a região Oeste do Pará pois, além de incluí-la em uma rede de coleta de dados pluviométricos globais, possibilitará entender melhor o regime de chuvas de nossa região, qual a sua origem e se há conexão com os lençóis freáticos aqui presentes”, explica Anderson Almeida da Piedade, docente do curso de Geofísica da Ufopa. “Este conhecimento agrega, e muito, nos estudos geofísicos, pois possibilita entender melhor o fluxo hídrico em nossa região”.

“A nossa expectativa é conseguir compreender melhor as relações isotópicas e a origem da água da chuva da nossa região”, afirma a docente Fernanda Souza do Nascimento, do curso de Geologia da Ufopa. “Pela primeira vez temos um equipamento dessa natureza instalado aqui na região para coletar a água da chuva para medidas isotópicas, seguindo todo o protocolo específico internacional, o qual inclui também um pré-tratamento que será realizado pelo nosso grupo de docentes”.

Mas, afinal, o que são isótopos?

Os isótopos são os átomos de um mesmo elemento químico que possuem a mesma quantidade de prótons, ou seja, o mesmo número atômico, mas diferenciam-se pelo número de massa (prótons + nêutrons) porque a quantidade de nêutrons no núcleo é diferente.  “Vamos pegar esse isótopo, que nada mais é do que um elemento químico que fica estável durante um bom período, e vamos analisar a água da chuva daqui de Santarém, fazer uma reta dos dados, hidrogênio e oxigênio”, explica o geólogo do CPRM, Manoel Imbiriba Júnior.

A professora Fernanda Souza do Nascimento, do curso de Geologia da Ufopa, explica que o uso de isótopos estáveis permite rastrear os movimentos da água no ciclo hidrológico. “As abundâncias isotópicas relativas variam basicamente por mudanças de fase, ou seja, dos estados físicos da matéria, o que torna os isótopos traçadores naturais desse ciclo”.

Como traçadores naturais, os isótopos estáveis vêm sendo usados para entender as mudanças climáticas específicas de uma região no passado, presente e futuro. “Os isótopos são extremamente úteis nos estudos relativos aos processos de recarga e descarga, fluxos e interconexões em aquíferos e entre estes e fontes de poluição, por exemplo”, explica Nascimento. Para a pesquisadora, os dados isotópicos serão também importantes nos estudos sobre o aquífero Alter do Chão, uma vez que ele é a principal fonte de água de abastecimento da região.

“Também pretendemos coletar a água do poço de monitoramento que a CPRM opera no Aquífero Alter do Chão e fazer a mesma análise do hidrogênio e do oxigênio. Se a água do poço der o mesmo resultado das amostras coletadas pela Ufopa nas análises em Viena, poderemos afirmar que essa água de Alter do Chão é da mesma composição isotópica da água da chuva, ou seja, possui a mesma origem”, explica Manoel Imbiriba Júnior. “O interesse é fazer trabalho em conjunto de análise dessa região, incluindo o comportamento da água da chuva, do rio e do poço, visando entender o ciclo hidrológico da região”.

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